domingo, 22 de abril de 2018

DRAMATURGIA: O BICHO DO PÉ PESADO

DRAMATURGIA: O BICHO DO PÉ PESADO  
O protetor florestal de Presidente Figueiredo

Autor Luís Sevalho



Direção e organização: Diretor (a) um assistente de direção, apresentador (a), três assistentes de palco e um sonoplasta.

Elencos: Pé Pesado, os fazendeiros Zé Ramos e Regine, Jurupari, engenheiro, sismógrafo, topógrafo e Três caçadores armados.

Equipamentos e suportes técnicos: Caixa de som, microfones, tochas de fogo, luz elétrica, três ventiladores para produzir vento nas tochas, facão de madeira, espingarda de isopor para os caçadores, uma mala, uma mochila, uma cadeira, calça comprida, bota-sapato, chapéu boiadeiro, um envelope amarelo escrito: Segredo, uma placa escrita Vila Serragro e a outra Serraria Serragro.

Atenção Diretor (a): O personagem Pé Pesado caracteriza-se na figura do homem lagarto, macacão verde, rosto pintado de verde ou máscara, olhos fogueados, pés e mãos com unhas enormes e serras nas costas. Vale a criatividade.  

Preparação do Cenário: Armação de uma casa velha com uma placa escrita: SERRARIA SERRAGRO e na diagonal fica o PALCO com outra placa escrita: (VILA SERRAGRO) referente ao Ramal da Serragro em 1980. Na frente da vila ficam três tochas acesas (iluminação à noite). Elas sofrerão os efeitos sonoplásticos de acordo com a cena 2.    

Atenção diretor (a): Preparar o palco para encenações onde no primeiro momento o episódio acontece à noite (cena 1 e 2) e as demais cenas são de dia. Em todas as apresentações aconselha-se um fundo musical. A frase: fecham-se as cortinas é opcional.

Histórico: Segundo o escritor e poeta amazonense Luís sevalho, a história acontece em 1980 na zona rural de Presidente Figueiredo Amazonas quando a Serragro Indústria e Reflorestamento finalizou suas atividades no km 200 da BR-174 ficando a vila dos funcionários abandonada e ocupada posteriormente pelo casal recém-chegado de Manaus, José Ramos Ferreira e a saudosa esposa Regina Lúcia Pinheiro Ferreira que em memória receberá no personagem o nome de Regine. Eles começaram a vida cortando juquira nas fazendas de gado. Anos depois o casal torna-se fazendeiros bem sucedidos e no ramal da Serragro surgiu a comunidade de Santo Antônio do Abonarí. Naquela época foram bastante atormentados por um ser bizarro que a noite aparecia pisando forte, estremecendo tudo. Por ser enigmático, recebeu o nome de Bicho do Pé Pesado que para os antigos é o protetor florestal de Presidente Figueiredo.        



Primeiro Ato: Preparação de Abertura

O apresentador (a) faz a abertura saudando a todos. Chama o escritor e poeta Luís Sevalho para o palco caso esteja presente. Em seguida ler o histórico do Bicho do Pé Pesado e anuncia:

Apresentador (a): Senhoras e senhores, com vocês o protetor florestal de Presidente Figueiredo o Bicho do Pé Pesado!
                                                  
                                          
                                              CENA 1          À NOITE

[Dois elencos se apresentam (família Ramos) caracterizados com vestimenta de trabalho rural. O marido (Zé Ramos) anda impaciente perto da esposa (Regine) que está sentada na frente da vila tecendo crochê quando Zé Ramos expõe seus planos para o futuro]

Atenção Diretor (a): A caracterização de Zé Ramos deve ser no estilo fazendeiro, com facão na cintura, calça comprida, botas e chapéu boiadeiro. A Regine apresenta-se vestida de trabalhadora rural. Vale a criatividade.

Zé Ramos: - Cortar juquira não é bom; e o pior, não existe outro trabalho mais fácil. - A gente acorda cedo, anda quilômetros para chegar às fazendas. - Amanhã a batalha é na fazenda do seu Lindolfo, noutro dia é lá no Zé das Porcas e depois de amanhã, no Ivani e assim por diante. - Ai que vida. - Se não melhorar temos que pegar o ”Beco” para Manaus.  

Regine: - Paciência Zé. - De lá viemos. -Temos que ficar por aqui mesmo. - O pouco com Deus é muito. - Vamos trabalhar para ter o que é nosso, pois a economia é a base da prosperidade.

Zé Ramos: - É mesmo, mulher! – Vamos trabalhar para ter a nossa fazenda de gado também, né!? (gestos de abraços)
                                                    
Atenção sonoplasta: Quando o Zé Ramos nem bem termina de falar, os efeitos sonoplásticos já se antecipam.   
                                             CENA   2          Á NOITE

[Durante a conversa o casal é surpreendido com barulhos externos. As tochas quase se apagam devido forte vento que surge, objetos vão ao chão (efeito de sonoplastia) e tudo começa a estremecer. A família fica atordoada, Zé Ramos prepara-se para enfrentar Pé Pesado, dá cambalhotas com o facão empunho, porém desiste e faz pergunta à esposa]   

Zé Ramos: - O que está acontecendo, Regine?! Será um terremoto?.  

[Neste momento o misterioso Pé Pesado passa pela frente da vila com pisadas fortes e lentas, desaparecendo nos escombros da antiga serraria deixando todos estarrecidos]

Zé Ramos: - Vamos entrar e orar a Deus para nos proteger. (faz gestos como estivesse se benzendo)

                                       
                                        Fecham-se as cortinas
                                                      CENA  3     

[Noutro dia o casal de malas prontas decide se mudar para a fazenda de trabalho e retornar à vila só nos finais de semana. Na frente da vila Zé Ramos conversa com a esposa]   

Zé Ramos: - Regine, o Robertinho já tinha falado que na área da antiga serraria apareciam muitas mesuras.

Regine: - Éh, o Esmeraldo e o Azarias confirmam isso. – Aparecia, nas imediações onde é hoje a casa do João Ramos e da Cordélia. – De aparência humana chamavam o bicho de Pé Pesado. - Por onde passava estremecia tudo. - Seu grito coalhava o sangue das pessoas. Ai me dá um arrepio!  (Fazer o gesto de arrepio).    
   
                                                     CENA  4

[Zé Ramos com a mochila nas costas entrelaça os braços junto à esposa e quando fazem menção de retirada são surpreendidos por uma voz do além (Jurupari) que se identifica e os interroga]

Atenção sonoplasta: criar suspense sonoplástico, como se estivesse caindo uma tempestade com som de trovões e relâmpagos, etc. antes do Jurupari falar em tom lento e grosso. 

Voz de Jurupari com efeito especial: - Ramos! É Jurupari o atribulador dos sonos dos malfeitores da floresta. – Tô contigo.  - Não tenha medo de Pé Pesado. - Ele é do bem; - só está aqui de passagem. - Morava na Caverna de Balbina quando era terra firme e junto aos índios lutavam para proteger seus territórios, manter as corredeiras, as cachoeiras, os rios de forma bem natural e saudável. No entanto, Pé Pesado e os índios foram expulsos dos seus territórios que se transformou numa Hidrelétrica. - Permaneçam na vila porque ela vai crescer com pessoas de bem, muita produção agrícola, escola e usina de buriti. O progresso está só começando.     

Zé Ramos: Éh, - vamos entrar Regine e ver o que vai acontecer.

                                 Fecham-se as cortinas - opcional

Segundo Ato:                      

                                                      CENA 5

[O engenheiro, o sismógrafo e o topógrafo da Andrade Gutierrez aparecem no ramal da serragro para dar continuidade a sua extensão e ao mesmo tempo construir os diques de sustentação de Balbina, porém são atormentados pelo mitológico e adoecem]

Atenção diretor (a): Os técnicos aparecem de roupa azul identificados com os nomes na roupa como, por exemplo: engenheiro, sismógrafo e topógrafo.   
Engenheiro chefe: – ”Vamos, comecem o trabalho”. “Construir mais vinte quilômetros de ramal e os diques”.

                                                      CENA 6

[Enquanto os funcionários fingem que estão demarcando a área Pé Pesado aparece sutilmente cuspindo neles deixando-os doentes e, consequentemente fazendo desistirem de suas tarefas]

Atenção diretor (a): Fazer a imitação do cuspe com algodão umedecido arremessado manualmente nas costas dos funcionários distraídos que reagem da seguinte maneira:

Engenheiro: - Ai que dor de cabeça. (fazer gestos) - Vou desistir desse projeto.

Sismógrafo: - Meu corpo dá sinal de abalo. Tô doente e quero provocar (fazer o gesto de que está com náuseas). - Vou desistir da firma.

Topógrafo: - Nada dá certo na construção desses diques. - Acho que a malária me pegou. - Vou embora e não volto mais aqui.

                                         Fecham-se as cortinas
                                                      
                                                        CENA 7

[Os técnicos da Andrade Gutierrez desconfiam que no ramal da Serragro tem ouro devido a presença de visagens. Porém, os minérios são protegidos por Pé Pesado e buscam apoio de caçadores para expulsá-lo. O engenheiro diz]


Engenheiro: - Gente! - Aqui na Lagoa da Léa e na Gamboa existe muito minério igual do Pitinga vigiado pelo pé pesado. É por isso que aqui é cheio de marmota. - A solução é pedir para os caçadores expulsá-lo. - Vamos falar com eles agora!? – Vamos.

                                    Fecham-se as cortinas
                                                            CENA 8

[Os caçadores aparecem fortemente aramados e começam a atirar para cima e para os lados retirando - se imediatamente]

Atenção sonoplasta: sonoplastia dos tiros com a presença de fumaças, etc.

Atenção assistente de palco: Colocar o envelope amarelo sutilmente no palco enquanto os caçadores estão atirando. Vale a criatividade.
                                        
                                             
                                        Fecham-se as cortinas

                                                     CENA 9
[Zé Ramos e esposa aparecem na frente da vila. Atônitos, avistam um envelope no chão e nele escrito: “Segredo”. Enquanto admiram-se do envelope em mãos, Jurupari volta a falar]    
Atenção sonoplasta: Manter o efeito especial antes de o Jurupari falar.

Jurupari: - Olá!  é Jurupari. – não se atormentem - Eu e Anhangá nos unimos para prover Pé Pesado de poderes. – De agora em diante se tornará o guardião desta vila, do Rio Uatumã e de Presidente Figueiredo. - Neste envelope estão guardados todos os segredos desta região. Se for quebrado a maldição volta a reinar contra a população. - Guarde-o a sete chaves. - Ah, psiu. - Não esqueça, o nosso protetor está vivo, pronto para agir.   
                                         
                                                         CENA 10

[Zé Ramos reconhece Pé Pesado como defensor da floresta e dos recursos naturais e faz perguntas compadecidas à Jurupari]

Zé Ramos: - E, onde ele está? – Se Balbina estourar quem vai salvar Presidente Figueiredo da inundação?

Jurupari responde: - Calma fazendeiro. – Pé Pesado age secretamente a nosso favor. Já viu como está o Park Urubuí e a BR-174, bem pavimentada e cheia de  ramais? São frutos dos seus poderes, assim como o surgimento do Galo da Serra, do Sete e do Quatro de Balbina que serão urbanizados e ocupados com centros de estudos avançados. Enquanto Nossa Senhora de Aparecida derrama bênçãos sobre a cidade ele luta em surdina para manter a fauna e a flora livre dos predadores. E, assim a população e seus visitantes podem turistar e banhar-se nas cachoeiras que tornam Figueiredo a maior cidade turística do Amazonas. Agora estou indo, tchau...      

Terceiro Ato Final:                     

                                                    CENA 11

[Zé Ramos concorda com as profecias e conclama a todos os presentes para agradecer o Bicho do Pé Pesado, o povo e a cidade de Presidente Figueiredo]

Atenção direção: Quando Zé Ramos chamar as pessoas para o agradecimento, todo o elenco se apresenta no palco, inclusive o narrador-Jurupari que estava intocado e o Pé Pesado no personagem. A palavra Jurupari deve aparecer como destaque na frente da camisa do elenco.  
                                
Zé Ramos: - Espera! (gestos de indeciso) - Viva, Viva, (pulos de alegria) – Pessoal! – venham todos aqui, vamos juntos dizer em alta voz: VIVA PÉ PESADO E O POVO DE PRESIDENTE FIGUEIREDO. Vamos lá, 1, 2, 3 e já: VIVA PÉ PESADO E O ...
                                     Salva de palmas por todos

                                                       FIM
                                     
                                   Nota de agradecimento e pesar
        O conto dramático do Pé Pesado relata também a história do casal José Ramos Ferreira e da esposa Regina Lúcia Pinheiro Ferreira que chegaram no ramal da Serragro por volta de 1980 construindo lá até os dias atuais uma boa base familiar. Em 2004 Regina Lúcia (no personagem Regine) foi chamada aos braços do Pai Celestial deixando para todos nós sua contribuição histórica pela qual será representada por seu esposo José Ramos que nos autorizou por escrito a ampla divulgação desta belíssima dramaturgia.
                                                   O autor

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Escritor e poeta Luís Sevalho
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Fones: (92) 99462-6132   (Luís Sevalho)
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