A HISTÓRIA DE BENTO CARLOS BAHIA RAMALHO
* Por
Luís Sevalho
OS
VULTOS HISTÓRICOS DE TEFÉ
Durante
a formação da antiga Ega grandes nomes e vultos históricos estiveram na
Princesa do Solimões. Alguns vieram fazer pesquisas e logo foram embora enquanto
outros fizeram moradia por muito tempo. Eles têm o reconhecimento histórico dos
tefeenses porque vislumbraram o futuro promissor do jovem município. Foi também
no decorrer dessa história que famílias de diferentes lugares procuraram Ega para
fixar residência, pois o lugar era hospitaleiro, um porto seguro para seus
visitantes que mais tarde vão formar a população tefeense. Neste contexto, porém
no período que Tefé já vai se modernizando é que chega ao município o Bento Carlos
Bahia Ramalho, o popular Carlos Ramalho.
Carlos Ramalho nasceu no dia 21 de março
de 1928 e junto a seus pais e irmãos foram se estabelecer no município de Carauari
Amazonas. Filho do cearense Bruno Ramalho e da enfermeira Salem Berga Izabel
Bahia Ramalho que tiveram quatro filhos: O Manelito, a Irene, o Carlos Ramalho
e o mais novo, Zé Maria Ramalho. A profissão inicial deles era explorar os
seringais nativos de Carauari, enfrentando toda sorte de perigo. A família
Ramalho tinha três seringais, o Monte Cristo, o Seringal Fortuna e o Chupa-Cão.
Em algumas dessas colocações eles também criavam gado. Por um determinado tempo
o Manelito ficou cuidando dos seringais e da pecuária enquanto o Carlos e o Zé
Ramalho foram estudar como seminaristas em Belém, colégio Marista. Depois, o Zé
Ramalho e o Carlos se alistaram no Exército do Rio Grande do Sul aonde chegaram
a ocupar a patente de Sargentos.
A
FAMÍLIA
Carlos
Ramalho era de raízes católicas e viveu sua vida de aventuras como qualquer
outro menino de Carauari. Namorou, apaixonou e até casou. Do primeiro casamento
teve três filhos: O Carlos Alberto (Betinho), o Carlos Henrique e o Carlos
Júnior. Sua primeira mulher o abandonou deixando ele muito abatido, porém recuperou
a vida e por um determinado momento deixou Carauari para aventurar o comércio fora
do município. Foi quando passou a viajar para Manaus, Belém e outros lugares mais
nunca deixou de dá ajuda financeira aos filhos que ficaram com a ex-mulher. As
viagens passaram a ser rotineiras, porém foi numa dessas andanças que recebeu a
proposta de um advogado tefeense, o doutor Wenceslau de Queiroz, para formar parceria
e fundar em Tefé a primeira drogaria Noite e Dia. A drogaria funcionava na esquina
da Rua Sete de Setembro, com a Rua Daniel Sevalho em prédio alugado do
proprietário Alceu Gama. O Dr. Wenceslau indicou a ele um apartamento do
comerciante Zé Baré que ficava próximo à Rua Daniel Sevalho, depois do Fórum de
Justiça no sentido da Beira Rio. Foi lá que Carlos Ramalho ficou por muito
tempo cuidando da drogaria e tentando se adaptar ao cotidiano tefeense.
Professora Lecita Lopes a mulher que flechou o coração de Carlos Ramalho com o laço do amor. |
Longe
da vida dos seringais e com o tino apurado no empreendedorismo preparava-se
para fundar uma rede de drogarias que funcionasse noite e dia, pois a cidade
era carente desses serviços e, em pouco tempo o município foi agraciado por várias
drogarias que se estenderam até ao bairro do Abial. Foi também lá daquele apartamento
do Zé Baré que observou a trajetória de uma jovem professora que após o
expediente das aulas ainda tinha tempo para atender as pessoas em sua humilde
mercearia que ficava perto do apartamento do farmacêutico Carlos Ramalho. Logo
tomou informações e descobriu que aquela mulher trabalhadora de beleza sem
igual já vinha de um relacionamento que não deu certo e que pelo jeito não pretendia
ter outro com ninguém. A mulher sedutora que mexeu com o brio do seringalista e
que de certa forma flechou seu coração com o laço do amor era Lecita Ferreira Lopes
ex-aluna do internato São José e novíssima professora primária do município. A
jovem professora trabalhava para criar duas filhas, a Simone e a Danielle que
eram bem criancinhas.
Numa tarde quando a professora Lecita
abriu a mercearia apareceu um cliente que ela nunca tinha visto por ali era o
Carlos Ramalho que solicitou uma cerveja deixando-a pasme sem saber responder,
pois estava encantada com a presença daquele senhor que tinha um olhar gentil, atraente
e comprometedor. Lisonjeada, disse que não tinha cerveja e ele prontamente disse:
- “então me sirva uma doze de aguardente” e assim foi feito. Começava ali a primeira conversa numa série de
outras que levaria aos dois a um belíssimo matrimônio. O insistente Carlos
dizia que tinha encontrado sua cara metade, porém Lecita estava indecisa não
queria um novo relacionamento, tinha duas crianças para criar e enchia-se de
dúvidas. Carlos Ramalho foi até a casa de seus pais e os convenceu que o namoro
com Lecita era compromisso sério e logo solicitou a mão dela em casamento. O
juiz de Direito Luiz Alberto selou a união entre os dois que passaram a viver a
vida conjugal na casa que ele prometeu a ela caso viessem se casar. A
residência era na Rua Otaviano Melo, número 207 que também passou a funcionar
com o nome de Drogaria Noite e Dia. O recém-casado Carlos Bahia Ramalho zelou e
cuidou das crianças com todo o carinho de um bom paizão dando apoio aos estudos
delas. Do casamento com Lecita nasceu
mais um filho, o Carlos Lopes Ramalho que educou com muita sabedoria e assim
floriu uma vida cheia de glórias desse casal que tinha e tem Deus e a família
no coração. Foram 32 anos de boa comunhão até ele ser chamado pelo Pai Celestial
no dia 26/06/2007.
CARLOS
RAMALHO, OS AMIGOS E O ESCRITOR
O
que dizer de Carlos Ramalho que tinha um olhar sério, mas por dentro um homem generoso,
de coração bondoso. Quando eu passava pela frente da drogaria Noite e Dia na
Rua Otaviano Mello, 207, já avistava ele sentado na cadeira preguiçosa
conversando com os amigos, contando ou escutando piadas das mais variadas. Rolava
de tudo tinha piada pesada que só era permitida para maiores a partir de 21
anos. Eu lecionava na escola São José, pertinho da drogaria dele. Era
inevitável ao passar por lá, tomar um cafezinho com o meu guru Carlos Ramalho
que logo pedia para escrever os “causos” assombrosos que ele viveu nos
seringais. Posso afirmar que ele foi meu maior incentivador a escrever as
histórias do nosso cotidiano amazônico. Mandou escrever o Cururu Teitei
(monstro do Rio Juruá), A Tartaruga Gigante do Rio Tefé e tantas outras que
eram divulgadas na Rádio Rural no antigo programa Encontro com o Povo do
comunicador José Lino e que aguçava o imaginário da população. Num desses cafés
em sua cozinha pedi autorização dele para escrever outras histórias sendo ele o
personagem principal e prontamente fui autorizado surgindo o personagem: Carlos
Ramalho e sua equipe Aranha Negra pronta para enfrentar os maiores desafios
seja na terra, ar ou mar. No livro de volume 1 e o volume 2 de minha autoria
intitulados As Loucuras de Vacyzinho de Moraes, escrito em cordel tinha como
personagem principal Carlos Ramalho e sua equipe Aranha Negra. Foram tantas peripécias,
porém vou citar algumas delas: A Corrida Gigante de Monga e Carlos Ramalho, Carlos
Ramalho na Ilha do Maçarico, A volta do Aranha Negra, Carlos Ramalho e a Lenda
da Castanha, e por aí vai. Ele adorava escutar essas histórias no Rádio e
achava que eu era uma pessoa muito importante para ele.
Carlos Ramalho conquistou a simpatia tefeense, tinha amigos fidedignos e
junto a eles participava de festas, principalmente as alusivas ao município. No
dia dos pais duas equipes se encontravam no estádio Samuel Fritz no bairro do
Abial. De um lado, a seleção dos pais de Tefé, de outro, a dos pais do Abial.
Advinha quem era o goleiro menos vasado dos pais de Tefé, era o Carlos Ramalho que
atraia multidão de seguidores para ver ele no gol. Quando o jogo terminava não
importava quem era o vencedor ou o perdedor a confraternização era na casa do
comentarista esportivo, Paulo Alves que durante as partidas já estava assando a
churrascada para a festa fraternal.
Quando a prefeitura criou o primeiro carnaval
de rua em 1995, os cordões inscritos eram representados por um só rei-momo que
era o Carnavalesco Carlos Ramalho que de posse da chave do município abria o
carnaval de rua para os foliões da cidade. Isso se repetiu por vários outros
anos de carnavais.
LEMBRANÇAS
ETERNAS
Dizia Santo Agostinho que a morte não é nada, apenas passamos para o
outro lado do caminho. Mas é difícil aceitar a despedida física de alguém que
chegou a nossa cidade para alegrar corações e ajudar no desenvolvimento do
município através do empreendedorismo. Homem carismático, mediador das coisas
de Deus e dos homens era um cidadão respeitado que deixou legados; Uma pessoa
maravilhosa, ótimo esposo, pai e irmão que conquistou a simpatia dos tefeenses incentivando
nossa cultura. Eu, o Luís Sevalho, hoje redator de sua história, digo que foi
bom ter conhecido este amigo que me deu forças e oportunidades para divulgar a
cultura tefeense coisa que só ele, pessoa de magia e de ideias incríveis me faz
torná-lo inesquecível.
Sua família daria tudo para ficar
eternamente ao seu lado. A esposa, os filhos sempre te carregarão em seus
corações eternizando o bem que fez a eles encorajando-os pelos bons exemplos de
vida fruto de sua dedicação que não se apagarão de suas memórias. Para nós,
amigos e simpatizantes ficam as lembranças do amigo empreendedor, do humorista
que nos deu alegrias que ajudou a escrever a história do município, mas que
chegou a hora de atender o chamado do Pai. Você se foi, porém suas lembranças
farão parte das nossas vidas nos dando forças para seguir a vida terrena.
Repousa em paz Bento Carlos Bahia Ramalho
*
Luís Sevalho é escritor tefeense residente em Manaus.
Contato no WhatsApp (92) 9 9462-6132
Esta
história você encontra no blog do sevalho:
http://blog-do-sevalho.blogspot.com/