A CONSTRUÇÃO DA ESTRADA,
BR-174 E O GENOCÍDIO DOS ÍNDIOS.
“Enquanto os leões não tiverem seus próprios historiadores, as
histórias de caça sempre glorificarão o caçador”. (Provérbio Igbo, da Nigéria)
A
dramaturgia tem como fonte o Relatório do Comitê da Verdade, Memória e Justiça
do Amazonas 2014 e o Movimento de Apoio à Resistência Waimiri/Atroari (MAREWA),
Itacoatiara, 1983.
DIREÇÃO GERAL: Diretor (a), assistente de direção, narrador (a),
apresentador (a) e assistente de palco.
PERSONAGENS
DO PRIMEIRO ATO:
Índio Maiká. (03 índios guerreiros com flecha
que protegem Maiká), 10 índios figurantes acompanhados a seus líderes tribais, Engenheiro
chefe, Timenes, sismógrafo, topógrafo, um detonador de explosivos, um segurança
armado medroso, sonoplasta, alguns homens armados para atirar e incendiar as
aldeias indígenas.
EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS PARA TODA
DRAMATURGIA:
Palco
com cortina, utensílios eletrônicos como caixa de som, microfones, Datashow,
réplica de bombas, fuzil, metralhadora, mesa de áudio, jogo de luz, efeitos de
sonoplastia, música indígena, etc.
COMO DEVE SER O CENÁRIO:
Projeta-se
um caminho, como se fosse a construção da estrada (BR-174) ficando as malocas
situadas de uma margem e de outra em toda sua extensão. Lá, estão as comunidades
indígenas praticando suas atividades culturais.
Atenção:
Vale a criatividade do (a) Diretor (a) para enriquecer o cenário.
HISTÓRICO DA CONSTRUÇÃO DA ESTRADA,
BR-174 E O GENOCÍDIO DOS ÍNDIOS.
Antigamente
por onde passa hoje a BR-174, não era caminho de civilizado. Somente o povo Kiña
(Quinhá), Waimiri-Atroari viviam em tempo livre nas regiões que compreendem a
margem esquerda do Rio Negro, os Rios Urubu, Camanaú, Rio Uatumã, Jauaperí, o
Alalaú e seus afluentes. Uma das UMÁ (estrada ou varadouro) ligava as aldeias
do Baixo ao Alto Rio Camanaú e seguia no rumo Norte atravessando o Rio Alalaú
por duas vezes passando por várias aldeias até adentrar o território dos índios
Wai-Wai. As corredeiras, as cachoeiras as riquezas da fauna e da flora faziam
parte do território imemorial dessas civilizações que para eles era uma fonte
de vida. No Rio Uatumã viviam em festas tribais, assavam peixes, comiam ovos de
tartaruga, tracajá, entrelaçando amizade com outros povos karib sem temer civilizados.
A
partir da segunda metade da década de 1970, Zona Franca e Eletronorte atraídas pelas
riquezas minerais e pelo potencial energético dos rios iniciaram a construção
da hidrelétrica de Balbina e depois a hidrelétrica particular de Pitinga. As
mineradoras instaladas em Pitinga tinham como objetivo saquear os minérios no território
dos índios sem consultá-los. O resultado do projeto desenvolvimentista causou a
maior catástrofe socioambiental e o genocídio dos índios Quinhá e a extinção do
povo Piriutiti. Vamos assistir como viviam os Waimiri-Atroari antes da
construção da estrada Manaus-Caracaraí atual BR-174 e por consequência o quase
total extermínio desse povo. O episódio começa a partir do Rio Urubu, na região
de Presidente Figueiredo.
PRIMEIRO ATO: Abertura
da peça pelo apresentador (a).
NARRADOR (A): Ler
o histórico já com o cenário aberto.
Atenção: Quando
começar a leitura os índios do Rio Urubu já estão praticando suas atividades
culturais, etc.
CENA 1
[ festas
tribais dos índios com seus costumes e tradições no Rio Urubu antes da
construção da estrada federal, BR-174. Índio Maiká: Canta, as tribos dançam, alguns
se alimentam outros brincam com os curumins e cunhantãs, o curandeiro pratica a
pajelança (vale a criatividade) e depois todos se retiram para suas malocas
]
CENA 2
[ As
empreiteiras, Mendes Júnior e Andrade Gutierrez autorizam seus engenheiros a
construir Balbina. O engenheiro chefe, Timenes, caracterizado com
a identificação nas costas: (Engenheiro Timenes)
aparece com um papel nas mãos tipo croqui e
ordena a equipe a começar os trabalhos para a construção da hidrelétrica de
Balbina ]
Engenheiro
Timenes: - Pessoal, vamos construir a hidrelétrica entre essas duas serras, bem
aqui na garganta do diabo no Uatumã. Será chamada de hidrelétrica de Balbina.
Timenes:
dizem que os índios vão impedir. Mas ela será feita sim, podem começar.
CENA 3
[ De
costas para os índios que estão escondidos, os sismógrafos e topógrafos fingem iniciar
seus trabalhos. Os índios em surdina fazem barreiras com palhas, cipós, galhos
de árvores, etc para impedir a passagem e, quando civilizado tenta retirar os
empecilhos, várias flechas são atiradas como advertência e o índio Maiká
aparece acompanhado de vários guerreiros para fazer sua reivindicação ]
Atenção diretor (a): Quando Maiká aparecer, o
segurança joga a arma com medo e tenta se esconder por trás dos funcionários.
Índio
Maika: Civilizado não pode fazer isso com nosso povo. Se construírem
hidrelétrica onde vamos morar e se alimentar? Vão embora!
CENA 4
[ A
equipe concorda em se afastar, porém dizem que vão buscar reforço para a
continuidade da obra ]
Alguém
da equipe fala: - Tá bom. – somos apenas trabalhadores. Vamos nos retirar e buscar
reforço para continuar o trabalho.
CENA
5
[ Neste
momento outros indígenas aparecem na estrada com seus chefes tribais juntando-se
à Maiká para discutirem estratégias que possam expulsar invasores quando
repentinamente são atacados por homens armados. Os indígenas fingem receber os
tiros de fuzil, das metralhadoras, etc. (ver sonoplastia) outros se defendem
das bombas e Maiká orienta todos a se protegerem ]
Índio
Maiká diz: - “Protejam-se!”. – “Vamos procurar refúgio - por aqui!”.
FECHAM-SE AS CORTINAS
(O narrador
(a) entra em ação com as cortinas fechadas)
NARRADOR (A): -
Diante ao massacre as lideranças indígenas se reúnem para tentar amansar
civilizado. Líderes como capitão Maroaga, capitão Pedro, Tuchaua Comprido,
Takwa, Canori, Coroinha, Abonari, Tomaz e Manoel são chamados e concluem que:
“– civilizado está bravo e louco”, “– estão colocando as árvores de raiz para o
céu” e decidem fugir com seu povo em direção a Boa Vista sem saber que nessa
direção a estrada federal já tinha sido colocada à rodagem e neste percurso
foram novamente massacrados. A partir daí a floresta era rasgada por tratores e
os rios ocupados por gente inimiga.
O DER-AM,
(Amazonas), o Departamento Nacional de Estrada e Rodagem (DNER), Forças Armadas
e a recém-fundada FUNAI da época forçaram a passagem da BR-174 nas terras
indígenas.
SEGUNDO ATO: A
construção da hidrelétrica de Balbina e o surgimento dos primeiros comerciantes
onde é hoje Presidente Figueiredo.
PREPARAÇÃO: Preparar
o cenário como se fosse a BR-174 aparecendo os seguintes restaurantes. Colocar
o nome desses restaurantes: (Restaurante
Manuel Galinha) onde é hoje a rodoviária, (Restaurante do Josias) situado ao lado direito da BR-174 sentido
Manaus/Boa Vista onde reside até hoje e o posto de gasolina (Honório Roldão), ao lado do restaurante
do Manuel Galinha. Enquanto o narrador (a) ler sobre Balbina, algumas pessoas
dão vida à futura cidade de Figueiredo. Por exemplo: os funcionários do posto e
dos restaurantes estão trabalhando, outros figurantes fazem o papel de pessoas
que estão indo ao trabalho, etc. Vale a criatividade.
PERSONAGENS PARA O SEGUNDO ATO:
Frentista do posto de gasolina, cozinheiras e serventes dos restaurantes, figurantes
disfarçados indo ao trabalho, outros sentados na mesa dos restaurantes, dois
transeuntes caracterizados de caipira ambulantes.
NARRADOR (A): - Enquanto
construía a hidrelétrica de Balbina, Presidente Figueiredo ainda não existia
apenas algumas atividades comerciais surgiram onde é hoje a cidade e os
primeiros comerciantes foram: o posto de gasolina do senhor Honório Roldão e os
restaurantes dos senhores Manuel Sobral Galinha e o restaurante do Josias. Presidente
Figueiredo torna-se município através da Emenda Constitucional nº 12 de 10/12/
de 1981.
CENA 6
[ Transeunte
caracterizado de caipira comenta com o compadre se era verdade que naquela área
surgiria Presidente Figueiredo ]
Atenção:
usar microfones.
Transeunte:
- “Compadre, tão dizendo que aqui vai ser construída uma cidade! – Você
acredita?”
Compadre:
- Com ar de graça. – “Rhum!” –”estão é louco” – “Construir uma cidade no meio
da floresta cheia de serras e cachoeiras” – “Acredito não, compadre”.
Atenção: O
papo informal continua com os transeuntes enquanto o narrador (a) ler o
histórico abaixo:
NARRADOR (A):
Enquanto se formava o pequeno povoado na região de Presidente Figueiredo a
construção de Balbina seguia a todo vapor ao mesmo tempo em que acontecia a guerra
silenciosa contra os Waimiri/Atroari que se refugiavam em Pitinga e eram
trucidados pelas forças do governo federal e pelos jagunços Sacopã das
mineradoras lá instaladas. Nessa região (Pitinga), nove aldeias aerofotografadas
pelo padre João Calleri em outubro de 1968, desapareceram com a instalação do
grupo Paranapanema e mineração Taboca. O governador de Roraima Fernando Ramos
Ferreira e o governador do Amazonas, Danilo de Matos Areosa eram os principais
incentivadores da campanha contra os índios. Nada era divulgado. O dia era sempre
do caçador e nunca da caça. Quem ficasse a favor dos índios era considerado um
débil mental.
FECHAM-SE
AS CORTINAS
TERCEIRO ATO: índios Quinhá assistem aulas
no método Paulo Freire.
PESONAGENS DO TERCEIRO ATO: professores Egydio e Dorotí,
índios alunos: Panaxi Olindo, Womé Viana, Pikida e uma índia com criança.
CENA 7
[ Os
professores Egydio e Dorotí Alice lecionam na aldeia Yawará, aplicando o método
Paulo Freire na língua materna dos kiña (Quinhá) e resgatam depoimento do
genocídio dos índios ]
Atenção: Uma
sala é improvisada sem cadeiras onde os professores lecionam para indígenas de
todas as idades na aldeia Yawará
CENA 8
[ Professores
Egydio e Dorotí dão boas-vindas aos alunos e aguardam a exposição espontânea
dos desenhos indígenas ]
Professor
Egydio: - Combinamos que trouxessem de casa alguns desenhos. Vamos apresentá-los!?.
Os
índios dizem: Vaaaamos!
Atenção: os
indígenas tentam apresentar seus desenhos de uma só vez e professor Egydio diz:
Professor
Egydio: - Espera aí. Panaxi Olindo mostre seu desenho.
Atenção: o
índio deve apresentar o desenho de um homem segurando um fuzil e bomba.
Panaxi
fala: - Foi assim que kamña (Cáminhá) matou minha família. (esboça choro) e se
retira.
Atenção: A
partir da fala de Panaxi, seguem-se as apresentações espontâneas dos desenhos
indígenas na seguinte ordem:
Womé
Viana apresenta uma casa furada a bala com a parede caída e diz:
Womé
Viana: Depois que Taboca chegou, fomos visitar a maloca Tikíriya que ficava no
Pitinga e não encontramos mais os índios. Invasor chegou atirando. Foi muito
triste! (demonstrar tristeza e choro)
CENA 9
[ Índia
com criança faz pergunta aos professores ]
Índia
com criança: O que Kamña (Cáminhá), joga de avião e queima o corpo da gente por
dentro? Porque foi assim que fizeram com uma aldeia amiga da nossa família.
CENA 10
[ Índio
Pikida: se apresenta e afirma que todos que ali estão tiveram suas malocas
queimadas atacadas por metralhadora, bombas, etc. ]
Pikida:
- Professores! Todos os nossos pais foram mortos. Nossos familiares tiveram as malocas
queimadas e atacadas por bombas e tiros de metralhadoras. –“Por que kamnã (Cámihá)
matou kinã?”(Quinhá) –“Apiemieke?”
Atenção: Nesse
momento todos os alunos choram veementemente repetindo a palavra, Apiemieke (por
quê?).
(Após
um minuto de choro em meio às apresentações dos desenhos e seus significados, o
narrador (a) anuncia que as autoridades começaram a desconfiar que os
professores estivessem colhendo provas do genocídio dos índios e mandam
afastá-los).
NARRADOR (A): - No
final de 1986, o presidente da FUNAI da época, Romero Jucá, mandou demitir os
professores Egydio Schwade e Dorotí Alice Muller por suspeitar que os
educadores estivessem reunindo provas a favor dos índios. Convidado, o
professor Egydio participou do lV Tribunal Russell em Rotterdam (Holanda) onde denunciou
as agressões sofridas pelos Waimiri/Atroari no Amazonas. Segundo o relatório do
Comitê da Verdade, Memória e Justiça do Amazonas mais de 2.000 Waimiri/Atroari
desapareceram em apenas 10 anos durante a construção da BR-174. Os Quinhá exigem
uma explicação ainda não respondida pelo Estado brasileiro o motivo de tanta
crueldade.
FECHAM-SE AS CORTINAS
CENA 11 FINAL
(Presidente
Figueiredo no momento atual e o poema: Cidade Morena da BR-174)
[ O narrador (a) apresenta no Datashow
algumas das atrações turísticas de Presidente Figueiredo e declama o poema do
poeta escritor Luís Sevalho). Por último apresenta a cidade em festa destacando
a atração nacional da última festa do cupuaçu e feira de agronegócios, etc.
(Neste momento todos os atores e atrizes da peça se apresentam no palco acenando
ao público a despedida final ]
NARRADOR (A): Algumas
das atrações turísticas que você encontra em Presidente Figueiredo...
Atenção: Apresentar
e explicar o que está sendo visualizado no Datashow. Quase
finalizando a apresentação, falar que para o poeta escritor Luís Sevalho
Figueiredo é para ele uma CIDADE MORENA DA BR-174 nos
versos do poema:
Presidente
Figueiredo
Tu
brilhas no meu olhar
Teus
atrativos turísticos
São
ricos em comentar
Terra
das cachoeiras
Lugar
mais lindo não há.
Na
Bela Iracema Falls
Não
posso deixar de ir
Lagoa
Azul e Orquídeas
Vou
deixar a vida fluir
Escalar
o Salto do Ypi
E
refrescar no Urubuí.
Durante
tua formação
Muita
coisa aconteceu
Nos
conflitos silenciosos
O
índio por ti morreu
Esta
luta de resistência
A
tua história escondeu.
Pujante
Morena da BR-174
Cidade
que sempre quis
Pinta
os nossos corações
Com
teu bioma verde lis
Mostra
ao mundo a bravura
Deste
honrado povo feliz.
FIM
Endereço do escritor e poeta Luís Sevalho:
Rua Malvarisco, 136 - Jorge Teixeira 4
CEP 69.088-413 - Manaus Amazonas
Contatos:
92) 9 9462-6132 (Luís Sevalho)
(92) 9 9406-7584 (Cláudia - esposa)
Ou no:
Sítio Sevalho: Ramal do Quadrado, Km 1
Comunidade Santo Antônio do Abonari
Km 200 da BR-174
Presidente Figueiredo Amazonas
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