quinta-feira, 24 de abril de 2014

O mistério do Igarapé Taboca






Um experiente caçador, que nunca teve medo dos mistérios da floresta, numa certa feita avistou, no meio da mata, na altura do km 180 da BR 174, um bando de porco-do-mato (queixada) e resolveu persegui-lo no afã de capturar um deles para sua alimentação.Na mata fechada, o caçador não percebia que quanto mais se aproximava do bando, mais adentrava a impermeável floresta. Quando se deteve, os javalis já estavam muito longe, bem distantes do seu alcance e, então, todo atabalhoado não acertou mais o caminho de volta para sua casa.Desatinado, o caçador orou ao Senhor clamando para livrar-lhe dos perigos que iria enfrentar.Apontou a bússola na direção correta e começou a caminhar na tentativa de encontrar a saída. Revigorado pela oração, logo avistou o igarapé do Taboca. Aproximou-se dele, saciou a sede com a farta água que d’ele jorra resolvendo descansar à sombra de frondosas castanheiras. O repouso era para amenizar a fadiga e recuperar força para vencer os desafios  que estavam por vir o que fez adormecer num leve sono.Quando despertou, continuou a caminhada por entre as pedras que dá acesso a uma ponta de terra mais alta do igarapé. A preocupação aumentou. No entanto, estava consciente de que tudo acabaria com um final feliz.Sabia ele que no ramal do Serragro, km 200 onde reside, teria que passar pela lagoa da Léa, antes do anoitecer para não ser alvejado com pedras vindas do além e nem tampouco encontrar-se com a mulher vestida de branco que aparece ao lado da ponte de madeira no dito ramal. Ele nunca teve medo dessas coisas; porém, tinha receio.O corajoso caçador só não sabia que a ponta de terra onde estava, era de mau-agouro e sinistra. Muitas pessoas passaram presságio ali por terem visto terríveis aparições. Até aquele momento, nada tinha acontecido com o herói da floresta que tinha muita fé de chegar em casa à tardinha, levando alguma embiara para saborear com a família. Todavia, a partir do momento que pisou naquelas pedras, sentiu um arrepio dos pés à cabeça, sendo tomado por uma forte dor de cabeça. Era chegada a hora de o caçador entregar-se inconscientemente aos domínios dos espíritos da floresta.As pedras começaram a estremecer; vozes saíam do vento, chamando: vem!...vem!...vem!...vem!; as árvores se retorciam e o caçador começou a ouvir gargalhadas: há, rá, rá, haaa! Que estrondava floresta adentro. No entorno do igarapé os peixes pulavam desordenados perseguidos por enormes borbulhas que emergiam do fundo, em toda sua extensão.Trêmulo e quase sem ação, o caçador enervado percebeu que vozes humanas aproximavam-se dele, porque escutava muita gente conversando, vindo em sua direção. O sangue voltou a circular nas veias do “pobre homem” que suspirou aliviado devido achar que teria visita de pessoas na área e, assim, poder espantar aquele latente medo que hora lhe invadira.Para sua surpresa, a mata toda silenciou em segundos. E, aos poucos, outras sessões de gestos macabros foram surgindo. Parecia que aquelas pessoas que estavam a caminho, aproximaram-se dele e passaram a circular em sua volta. O caçador percebia que as folhas estavam sendo esmagadas por pés invisíveis e não conseguia ver ninguém.- “Não é outro”, lembrou o caçador. - “Deve ser a arte maligna do Matintaperera tentando expulsar-me deste lugar, mas não vou dar-me por vencido e nem correr com medo dele”, retrucou o bravo caçador. Mais que rapidamente, adquiriu uma vara de envira surucucu, pediu bênçãos do céu e começou a surrar toda a área supostamente invadida pela ação maligna. Preparou-se em posição de combate, rodava e fazia gestos olhando com os olhos arregalados para todos os lados, esperando o que jamais estava por imaginar.Passados alguns minutos, a reação foi tamanha. O bicho endiabrado começou assobiar estridentemente, sobrevoando em circulo, rente aos ouvidos do caçador para desorientá-lo, azucriná-lo, ou fazer o mesmo abandonar aquela área de muitos animais silvestres. Como não conseguiu seu intento, o maligno resolveu engrossar o quanto pôde seu assobio. Dessa vez, o trinar do sopro era tão forte, que o eco subia até à copa da castanheira e descia freneticamente, deixando o teimoso caçador extasiado, com os cabelos todos em pé. Quase sem saída, e não vendo a hora de correr em disparada, o caçador chegou à conclusão de que as marmotas eram realmente coisas sobrenaturais e começou a repreendê-las com palavras divinas, invocando o poder do nosso Senhor.Estufou o peito e gritou em alta voz: - “Em nome de Jesus, sai daqui todos os males desse lugar e deixem a floresta para as pessoas do bem viverem em paz”. Sai agora... sai”! Em seguida detonou dois tiros para o alto. A resposta foi o silêncio e tudo foi acalmando-se até normalizar-se de vez.Estonteado e ainda querendo entender o que estava acontecendo, o caçador caminhou mais um pouco, saindo na BR 174, onde de carona chegou no Santo Antônio do Abonarí, e contou aos comunitários tudo o que aconteceu com ele nesta emblemática e misteriosa caçada. Recomendou aos mal-avisados para não praticarem a caça e a pesca predatória, porque os animais têm os seus defensores nos rios e na floresta. 

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