A COBRA OUROMANTE
Luís Sevalho
Dizem que quando os índios Júris
refugiaram-se para as cabeceiras do Rio Tefé, procurando se proteger da
perseguição dos colonizadores portugueses, encontraram naquela região uma
infinita riqueza de pedras preciosas, formando lá sua primeira maloca. Mais
adiante, encontraram o lago dos espelhos repleto de diamantes controlado pelos
Jurimáguas. Tentando proteger o território e suas riquezas, o pajé da tribo enfeitiçou
um filhote de sucuri, colocando seu nome de Ouromante.
Depois de enfeitiçada a cobra foi solta no
rio Tefé com a missão de proteger seu povo de todos os males que viesse
acontecer naquele lugar. Com o passar do tempo o xamã fez uma pajelança para
saber da situação da serpente, já que nunca mais tinha ouvido falar do seu
paradeiro. Durante a realização da magia observou no reflexo da água preparada
com a resina da laca e jogada no igarapé, que a cobra Ouromante se transformou
numa serpente gigante e para se proteger, escavou bem profundo o canal do rio
Tefé. Também preparou três grandes poços subaquáticos para sua moradia; um
deles fica na boca do igarapé da samaúma, o outro é o poço-espuma e o seu
esconderijo preferido é a misteriosa ilhinha que fica perto da entrada do
Tauarí, formando lá um sumidouro muito profundo.
Os
mistérios dessa pequena ilha é ainda um enigma e continua aguçando a imaginação
de muitos navegantes. As pessoas não arriscam ficar lá nem mesmo para se
protegerem de temporal. Certa noite, uma família que descia pelo Rio Tefé,
resolveu pernoitar na assombrada ilha, amarrando seu batelão de treze metros no
galho de um araparizeiro, enquanto faziam o gostoso café para esquentar o frio
da madrugada. Inesperadamente o pequeno bote começou a navegar voluntariamente,
sendo puxado pela ilha, descendo rio abaixo. Perplexos, todos ficaram sem
entender o que estava acontecendo; sabiam que não se tratava de uma coisa
normal; no entanto, nada podiam fazer, enquanto o barco continuava a singrar as
águas do grande rio.
Quando já se encontravam nas imediações do
poço-espuma, o batelão começou arreigar, entrando água pela popa de tanta
velocidade esboçado pela ilha; então, resolveram cortar o cabo, desprendendo-se
da ilha que já à deriva foram encalhar nas barrancas do Açaituba, salvando-se
todos. Abismados, presenciaram a ilha dar a volta, subindo contra a correnteza
retornando ao mesmo lugar. O momento era mesmo de arrepiar.
Outro caso macabro deste intrigante
mistério aconteceu quando um prático puxador de barcaças, conduzia petróleo do Urucu e no momento que
passava rente a ilhinha, sentiu que a velocidade da balsa ia diminuindo,
ficando quase parada totalmente: vários estrondos foram ouvidos lá no fundo do
rio, em seguida fortes redemoinhos começavam a precipitar deixando a enorme
balsa a mercê de turbulências que balanceava igualmente a uma canoa. O
navegante ficou aturdido e chegou a entregar sua alma a Deus; porém conseguiu
escapar com vida. No entanto, logo que chegou na cidade, demitiu-se do emprego,
ficando traumatizado.
Certo é que depois de uma semana que
aconteceu o episódio, um rapaz por nome Chico Cabo que nunca quis acreditar
nessas histórias malucas, montou seu Yamar de quatro HP sobre as costas da
brutela quando passava pelo poço-espuma e depois de muitas orações conseguiu
escapar da morte, tornando-se um ardoroso defensor da cobra Ouromante,
protetora do Rio Tefé.
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