domingo, 29 de janeiro de 2017

A COBRA OUROMANTE

A COBRA OUROMANTE
 Luís Sevalho


     
    
Dizem que quando os índios Júris refugiaram-se para as cabeceiras do Rio Tefé, procurando se proteger da perseguição dos colonizadores portugueses, encontraram naquela região uma infinita riqueza de pedras preciosas, formando lá sua primeira maloca. Mais adiante, encontraram o lago dos espelhos repleto de diamantes controlado pelos Jurimáguas. Tentando proteger o território e suas riquezas, o pajé da tribo enfeitiçou um filhote de sucuri, colocando seu nome de Ouromante.
     Depois de enfeitiçada a cobra foi solta no rio Tefé com a missão de proteger seu povo de todos os males que viesse acontecer naquele lugar. Com o passar do tempo o xamã fez uma pajelança para saber da situação da serpente, já que nunca mais tinha ouvido falar do seu paradeiro. Durante a realização da magia observou no reflexo da água preparada com a resina da laca e jogada no igarapé, que a cobra Ouromante se transformou numa serpente gigante e para se proteger, escavou bem profundo o canal do rio Tefé. Também preparou três grandes poços subaquáticos para sua moradia; um deles fica na boca do igarapé da samaúma, o outro é o poço-espuma e o seu esconderijo preferido é a misteriosa ilhinha que fica perto da entrada do Tauarí, formando lá um sumidouro muito profundo.
      Os mistérios dessa pequena ilha é ainda um enigma e continua aguçando a imaginação de muitos navegantes. As pessoas não arriscam ficar lá nem mesmo para se protegerem de temporal. Certa noite, uma família que descia pelo Rio Tefé, resolveu pernoitar na assombrada ilha, amarrando seu batelão de treze metros no galho de um araparizeiro, enquanto faziam o gostoso café para esquentar o frio da madrugada. Inesperadamente o pequeno bote começou a navegar voluntariamente, sendo puxado pela ilha, descendo rio abaixo. Perplexos, todos ficaram sem entender o que estava acontecendo; sabiam que não se tratava de uma coisa normal; no entanto, nada podiam fazer, enquanto o barco continuava a singrar as águas do grande rio.
     Quando já se encontravam nas imediações do poço-espuma, o batelão começou arreigar, entrando água pela popa de tanta velocidade esboçado pela ilha; então, resolveram cortar o cabo, desprendendo-se da ilha que já à deriva foram encalhar nas barrancas do Açaituba, salvando-se todos. Abismados, presenciaram a ilha dar a volta, subindo contra a correnteza retornando ao mesmo lugar. O momento era mesmo de arrepiar.
     Outro caso macabro deste intrigante mistério aconteceu quando um prático puxador de barcaças,  conduzia petróleo do Urucu e no momento que passava rente a ilhinha, sentiu que a velocidade da balsa ia diminuindo, ficando quase parada totalmente: vários estrondos foram ouvidos lá no fundo do rio, em seguida fortes redemoinhos começavam a precipitar deixando a enorme balsa a mercê de turbulências que balanceava igualmente a uma canoa. O navegante ficou aturdido e chegou a entregar sua alma a Deus; porém conseguiu escapar com vida. No entanto, logo que chegou na cidade, demitiu-se do emprego, ficando traumatizado.
     Certo é que depois de uma semana que aconteceu o episódio, um rapaz por nome Chico Cabo que nunca quis acreditar nessas histórias malucas, montou seu Yamar de quatro HP sobre as costas da brutela quando passava pelo poço-espuma e depois de muitas orações conseguiu escapar da morte, tornando-se um ardoroso defensor da cobra Ouromante, protetora do Rio Tefé.


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