O
BICHO DO PÉ PESADO
Luís
Sevalho
No ano de1980 quando a Serragro
Indústria e Reflorestamento finalizou suas atividades no km 200 da BR-174, um
casal que ficou na vila dos funcionários passou por letargia mágica por escutar
andares misteriosos que estremecia a casa. A comunidade do Abonarí não existia
e o Ramal do Serragro só tinha 2 km de área construído. Pois era no final dele
que a mesura passava duas vezes na semana em noite escura e escafedia-se nos
escombros da antiga serraria. Quem teve coragem de filmar suas características
afirma que a fera aparentava um híbrido humano. Os pés eram enormes com olhos
fogueados e peito de aço; as costas continham serras e parecia alimentar-se de
cadáveres. Transformava-se em figuras bizarras com mutações constantes para
surpreender predadores. Em situação de perigo, pisava tão forte que o chão
tremia tipo explosão de dinamite. O grito era ensurdecedor e quem ouvisse podia
ter o sangue coalhado imediatamente.
A família em apuros pensou em desistir do trabalho que fazia nas
fazendas de gado. Até então as mais próximas ficava há quilômetros de distância
e não tinham transporte. Saíam de madrugada para roçar juquira, única atividade
agrícola que garantia o sustento. Para livrar-se da perseguição macabra, a
estratégia era dormir na fazenda, só retornando ao lar nos finais de semana.
Quando estavam em casa e a noite chegava, recolhiam-se cedo; trancavam tudo e
caíam em oração para evitar um encontro casual e fatal com o aborígene que o
rotularam de Bicho do Pé Pesado.
O fenômeno não tinha explicação,
porém contam que o mapinguari ordenou a todos os guardiões da floresta que
impedissem o desmatamento da Amazônia. Muitos foram para o Distrito de Pitinga,
assombrar os exploradores do minério enquanto que o Rio Uatumã e seus afluentes
ficariam sob a guarda do Pé Pesado. A intensão do pré-histórico era criar
empecilho para barrar a construção da Hidrelétrica de Balbina, pois a caverna
onde morava estava preste a inundar e transformar-se em cacaia. Os índios eram
seus aliados e juntos lutavam para salvar seus territórios. No entanto, o
projeto desenvolvimentista continuava avassalador e Pé Pesado da espécie
Sasquatch Bunyip precisava agir, não só em defesa própria, como também para
proteger o ecossistema ameaçado.
Recorreu à natureza e conseguiu apoio
dos deuses Anhangá e Jurupari que aconselharam agir secretamente para afugentar
malfeitores. Seu cuspe gelatinoso grudava no corpo dos engenheiros, dos
sismógrafos e dos topógrafos. Tomados por toda sorte de doenças eles
abandonavam a frente de batalha. Por onde a criatura passava mesmo sem vê-lo,
as pessoas sentiam mal-estar, enjoos, e ao dormir sofriam pesadelos e sonhos
terríveis. Os homens fofoqueiros escondiam-se do desnaturado temendo que ele
arrancasse suas línguas. As mulheres já enfeitiçadas perdiam o controle
familiar e caíam na bagaceira.
Pé Pesado não dava sossego aos
inimigos da floresta. Agiu assim por muito tempo na região de Presidente
Figueiredo tentando manter as corredeiras, as cavernas os rios, tudo de forma
bem natural e saudável. Todavia foi vencido em sua manifestação ecológica. O desejo federal falou mais alto e o Rio
Uatumã foi modificado. A inundação de Balbina mudou a vida das pessoas, das
plantas dos animais e, por conseguinte, levou a sua expulsão para outro lugar.
Desolado o protetor ambiental devolveu seus poderes aos deuses e retirou-se em
busca de um refúgio onde não encontrasse tanta maldade humana.
Escolheu o Ramal do Serragro para se
alojar ficando a proteger as riquezas minerais que existem submersas na Lagoa
da Léa e na Gamboa. Dizem que durante o tempo que lá ficou muitas marmotas lhe
acompanharam; porém, todas inofensivas porque ele era uma figura do bem e um
verdadeiro defensor da nossa floresta. Quando deram continuidade na extensão do
Ramal para a construção dos diques, o Bicho temendo uma nova inundação
desapareceu e ninguém sabe para onde ele foi.
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