O
HOMEM QUE SÓ DIZIA HÃO
Luís Sevalho
O
caso aconteceu com um caboclo amazonense, irmão do Johão que duvidando de tudo
saiu para pescar numa noite de halloween e lá pelas tantas encontrou numa praia
a cabeça da maldição que perambulava sem destino e parecia dizer hão. O
ingênuo, ao invés de se mandar, passou a persegui-la e não lucrando êxito foi
enfeitiçado por aquela assombração. A pescaria não deu em nada e quando chegou
em casa a esposa percebeu que ele só dizia hão.
A mulher saiu atônita pedindo auxílio
aos vizinhos para resolver a situação. No entanto, ficou muda e junto ao marido
só diziam a palavra hão que foi passando para os filhos, aos amigos e até ao
meu irmão . A moda ganhou repercussão viralizando no hão; em poucos minutos a
vila já entoava esse refrão:
Hão, hão, hão, foi no irmão do Johão,
Hão, hão, hão, o feitiço da
assombração,
Hão, hão, hão, já estou com a maldição.
A notícia chegou à cidade tomando
conta do povão; nas redes sociais só se falava no hão. Até no Club de forró
dançavam o ritmo hão. Na escola o professor dava aula só no hão; já nos fones
de ouvido só se escutava o hão. A vovó de oitenta anos balanceava no hão; o
padeiro, o motorista, o sorveteiro, o coveiro e o motoqueiro também entraram no
hão; até quem ler essa história vai dar um nó na garganta e dizer somente hão.
Os moradores de onde tudo começou
mudaram o nome do povoado para Vila do Hão e as pessoas que entoarem este
refrão terão como castigo acrescentar no primeiro nome a grafia hão. Agora diga
seu nome acrescido do hão!
A partir do acontecido por onde se
andava ninguém queria ver o parente do Johão temendo contaminar-se com o vírus
da maldição.
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