A INTRIGANTE HISTÓRIA DO
CHUPA-CABRA
Conto de um agricultor
Autor Luís Sevalho
Desenho Raimy Ribeiro
Meu amigo aqui presente
Suspire sem sentir dor
Seja forte e destemido
Tranque os dentes de horror
Com esse intrigante mistério
Que comigo se passou.
Na comunidade aqui próxima
Onde vivo a morar
Vi uma coisa doutro mundo
Difícil até de explicar
Pois toda vez que lembro
Dá vontade de chorar.
Eram três horas da tarde
Quando parei de roçar
Falei à minha família
Que ia sair pra caçar
Capturar lá na mata
Uns “bichinhos” para jantar.
Pela trilha central
Comecei a caminhar
Fazia total silêncio
Para a caça não espantar
Pisava leve na folha
Para ela não estalar.
Na minha frente, no caminho
Tinha um pau atravessado
Sentei-me em cima do âmago
Deixando a espingarda ao lado
E, olhando para baixo
Vi um rastro de veado.
Fui seguindo as pegadas
Sem nenhuma ilusão
Quando lá em uma árvore
Foi direta minha visão
Avistei um bicho feio
Parecendo a maldição.
A cabeça era de arraia
Fedorento que só timbu
Tinha a camisa de argolas
E o corpo de couro cru
Suas pernas eram cinzentas
Pareciam as de urubu.
Calculei trinta e seis pernas
Naquele animal selvagem
Deveria ter até mais
Pois contar, faltou coragem
Num instante meditei:
- Meu Deus, é uma miragem.
Recuei entre a folhagem
Para o “monstro” não me ver
Minhas pernas tremiam
Não dando para correr
Porém, deitei-me no chão
Dando para me esconder.
Entre as folhas de cantá
Vi o monstro descomunal
Comecei a observar
O movimento do animal
Dos olhos saía fogo
Que incendiava o matagal.
Por onde se encostava
Ia ficando logo a marca
Tinha vinte carreiras de dentes
Afiados como uma faca
E oito carreiras de peitos
Parecidos com os de vaca.
Da calda até a cabeça
Era composto de serra
O grunhido que fazia
Era de bode quando berra
Quando o monstro se mexia
Eu sentia tremer a terra.
Acompanhavam dez chifres
Na cabeça dessa fera
As unhas bem pareciam
Com as de patas de pantera
Eu nunca pensei de ver
Uma aparição como aquela.
O monstro saiu andando
Num grunhido sem igual
Eu também saí de leve
Seguindo aquele animal
Que sumiu da minha vista
Atrás de um imbaubal.
Dei um suspiro forçado
Tentando me refazer
Da terrível aparição
Só a vendo para crer
Nessa hora eu pensava
- É triste o meu padecer:
Tentei enfrentar o perigo
E o mistério desvendar
Varei no campo do gado
E de longe deu pra enxergar
Um carneiro desmaiado
E um filhote a berrar.
O carneiro já arqueado
Teve o cérebro arrancado
No corpo não tinha nada
Nem se quer um arranhado
Também tinha uma vaca
Com o miolo decepado.
O filhote descontente
Insistia a berrar
Chorava e corria atônito
Como querendo avisar
Que o bicho misterioso
Escorava-me no olhar.
Resolvi pegar o filhote
Para tentar consolar
Qual foi triste meu destino
Quando atrás ouvi chiar
E, quando quis me virar
Senti o monstro agarrar.
Criei força e coragem
Igualmente a do Sansão
E tentei acertar um soco
Na enorme aparição
Mas, o monstro depravado
Suspendeu-me pelo calção.
Fui subindo lentamente
Sem defesa para lutar
Pendurado pelo calção
Não tinha como escapar
Parecia uma tucandeira
Na língua do Tamanduá.
Resolvi fazer uma prece
Pedindo ao meu criador
Livrai-me desse maligno
Com sua força do amor
Mas, se for uma mensagem
Eis-me aqui, ó Senhor.
Aí, o monstro gemeu
Como sentindo uma dor
Colocou-me lá no chão
E numa voz estrondou
A restinga se tremeu
Aí o monstro falou:
- Quer saber meu nobre nome?
Veja bem como que sou
Me chamo de Chupa-Cabra
Rei das trevas e do pavor
Estou marcando neste mundo
Os que não têm mais amor.
- Lúcifer, o meu supremo
Anda muito atarefado
Senão estava comigo
Espalhando ódio e pecado
Mas, me deu o seu carimbo
Para carimbá adoidado.
- No carimbo tem os números
Seiscentos e sessenta e seis
Que misturado à estricnina
Com a pena da galinha pedrês
Fica pronta a maldição
Que vou selar em vocês.
Escutei as profecias
Sem que pudesse piscar
Meu corpo todo tremia
Sem eu sair do lugar
Preso numa força estranha
Era o jeito concordar.
No seu último segredo
O monstro desapareceu
Resolvi apalpar meu corpo
Confirmando se era eu
E num instante, em segundos
Minha vista escureceu.
Quando fui me recordar
Desse mistério intrigado
Já estava rodeado
Dos parentes ao meu lado
Que me trouxeram aqui
Para contar o fato passado.
Chega ao fim essa história
Com o suspense ainda no ar,
Será que o Chupa-Cabra
Aparece em todo lugar?
Se for verdade que existe
Ele ainda vai te pegar!!!
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