sábado, 21 de fevereiro de 2015

A CARA FURADA DE CATIMBUM

Inédito

A CARA FURADA DE CATIMBUM
                                 Autor  Luís Sevalho     

     


   Catimbum era um adolescente muito sapeca que vivia ocioso numa cidade metropolitana do Amazonas. Tinha o olhar arrogante que amedrontava qualquer pessoa. Detestava os familiares e só andava no meio de más companhias. A escola, que seria a esperança de torná-lo um cidadão, há tempo abandonou e a convivência com a família era só para causar aborrecimentos. Tentando recuperá-lo da rebeldia, seus pais mandaram o moleque morar com a avó lá no interior. Por lá, longe da rua, ele se ajeitou tornando-se um menino exemplar. Para a avó, era considerado um neto muito obediente.
     Um dia a avó foi fazer compras na cidade, deixando o menino sozinho, pois não demoraria voltar. De fato, não demorou e ao retornar encontrou o pirralho febril com dores no corpo. Preocupada o internou numa casa de saúde para observação.  Noutro dia recebeu a notícia que o neto foi a óbito. Ela ficou tresloucada pelo golpe da perda e, passado alguns dias, retornou ao sítio. Mas, o convívio não era o mesmo. Havia um vazio. Foi então que num gesto desesperador passou a chamar o neto todos os dias para vir almoçar com ela. Era inadiável rodear a casa e chamar pelo nome do morto. – “Catimbum, meu filho venha já almoçar”! – “ainda não almocei, venha”! Assim agia para ver se ele voltava ao mundo físico.
     Depois de alguns meses, talvez pelo mau agouro em perseguir seu nome e não deixá-lo em paz ele começou aparecer em forma de assombração no terreiro da casa onde as crianças brincavam de pato-cego. Uma delas viu a aparição aproximar-se com a cara toda furada, olhos estupidamente vermelhos, parecendo um vampiro irado. Seu corpo estava desfigurado, coberto por larvas que exalava odor insuportável. O susto foi tão grande que uma das crianças que o viu foi perdendo o sentido e desmaiou.   
     Em sonhos, conversou com a visagem, que pediu para chamá-lo de Cara Furada, afirmando que sua missão neste mundo seria muito perversa. Procurava pessoas malcriadas com os pais, avós, tios, vizinhos e também aquelas viciadas na internet, whatsapp, joguinhos e que não obedecem a seus professores. Em voz de trovão advertiu: - “Minha maldição chegará ao fim quando meninos e meninas abrandarem seus corações ficando todos bonzinhos e estudiosos”. Depois que as crianças escutaram esta história de horror, todos se comprometeram que não faltariam mais às aulas, que fariam as tarefas escolares, obedeceriam a seus pais e avós, escovariam os dentes e ficariam bem obedientes.

   Se você é desse time, que não gosta de obedecer a ninguém, cuidado com o Catimbum porque ele é o retrato do capeta. Gosta de aparecer no terreiro de casa para judiar dos animais, joga pedras em quem passa e azucrina os teimosos. Se duvidar, terá a vida atormentada, porque ele tem poderes para transformar a gente noutro Cara Furada mais horripilante ou numa marmota agourenta que andará sem destino pelos ramais em noite de lua assombrando a todos. Quem for amaldiçoado só descansará quando cair em um enorme caldeirão de fogo.

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