ÍNDIO PATUÁ
Autor Luís Sevalho
Desenho Raimy Ribeiro
Patuá era um índio tapiba que viveu em Tefé logo
que Ega se transformou em cidade. Era muito experiente em caçadas selvagens.
Vivia o tempo todo à procura das embiaras que servia de alimentação para seu
povoado. Morou em várias localidades adjacentes ao município, como o Piraruaia,
Tauarí e Moquental; neste último, fixou residência por muito tempo.
Quem o via pela primeira vez, estranhava seu jeito
esquisito dado ser de aparência muito estranha. Era moreno, corpo roliço sem
talhe. Porém era muito bondoso e querido por todos. Sua excessiva experiência
na arte de caçar animais silvestres dispensava qualquer comentário.
Quando queria saber onde estava o bando de queixada
(porco do mato), ou se alguém estava a caminho da vila, patuá usando de sua
arte indígena, colocava os ouvidos rente ao chão, distribuía sorriso e dizia: -
“tá chegando gente da cidade no povoado”. Ou então, falava: - “tem um bando de
porcos nas proximidades da itaubeira” e assim por diante. Quando se tratava de
porcos, antas e veados, o velho índio já saía em disparada, embrenhando-se na
mata, sem fazer caminho para encontrar suas presas. Sua arma principal era a
espingarda alemã chamada “noiva”, devido o brilho dado a ela todos os dias por
ele. Na volta de suas aventuras já era certo a distribuição de carne fresca a
todos que o aguardava.
A comunicação ouvido-terra fazia de Patuá uma
espécie de guru - adivinhão, ganhando confiança de todos principalmente de
caçadores que para não se perderem na selva, usavam o experiente índio como
matreiro. Sua profissão era a caça; nunca plantou uma maniva. A noite, a minúscula vizinhança rodeava ao
lado dele para escutar lindas histórias de sua tribo. Invocava o mito do boitatá,
mapinguarí, caiçara e descrevia com muito orgulho a vida de sua sobrinha, a
índia Caboré que se transformou numa castanheira, símbolo do município.
Certa feita, Patuá saiu de casa para escorar antas
no chupador central do Tauarí. Mucuta nas costas, espingarda sobre os ombros,
lá foi ele amarrar sua rede-moitá ao lado do místico lugar.
Minutos depois apareceu a primeira anta, sendo
recepcionada com um balaço da alemã, caindo em cima do rastro. Patuá continuou
inerte após o tiro, aguardando outras antas aparecerem quando percebeu um
estranho homem focando lá em baixo, entre as árvores; parecia cuidar do
chupador. Depois de alguns segundos Patuá foi surpreendido com um clarão de
luz, ficando assustado no que estava vendo. Ele permaneceu quieto até a luz se
desfazer.
Porém, nada com ele aconteceu. Mais tarde, o
assombrado lugar dava sinal de visita; resolveu focar enxergando dois animais
na aparência de cavalo que chupavam lama salgada e que num gesto de liberdade,
levantavam a cabeça no ar, expondo enormes dentes. O velho índio percebeu que
não era coisa desse mundo. Jamais tinha visto em toda sua vida, cavalos
selvagens em chupador de anta; mesmo assim não perdeu o entono de bom caçador,
liberando dois tiros nas supostas aparições.
Quando silenciou o estampido, focou novamente vendo
um cavalo em delírio; o misterioso mastodonte saltava enfurecido, tombando as
árvores ao seu redor e decepando-as com seus enormes dentes já esvaído em
sangue devido aos efeitos dos tiros.
Patuá desceu da rede onde estava amoitado e partiu
para o confronto com a fera, tentando segurar pelo rabo e jogá-lo ao chão.
Quando se aproximou foi alvejado por um coice que o fez perder o sentido; mal
pôde ver o animal afastando-se dele, ficando lá a dormir por dois dias até ser
resgatado por populares que saíram a sua procura.
Retornando para casa, Patuá parecia sonâmbulo,
falava descontrolado e dizia que queria se encantar. Depois desse acontecimento
passou o tempo todo fora do normal. O destino dele era querer embrenhar-se na
mata; até que um dia fugiu para a selva e nunca mais foi visto por ninguém.
Tempos depois suas vestes foram encontradas no pé de um patuazeiro que nasceu
no meio do chupador central do Tauarí.
Nenhum comentário:
Postar um comentário