sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

ÍNDIO PATUÁ

ÍNDIO PATUÁ

Autor Luís Sevalho



Desenho Raimy Ribeiro


Patuá era um índio tapiba que viveu em Tefé logo que Ega se transformou em cidade. Era muito experiente em caçadas selvagens. Vivia o tempo todo à procura das embiaras que servia de alimentação para seu povoado. Morou em várias localidades adjacentes ao município, como o Piraruaia, Tauarí e Moquental; neste último, fixou residência por muito tempo.
Quem o via pela primeira vez, estranhava seu jeito esquisito dado ser de aparência muito estranha. Era moreno, corpo roliço sem talhe. Porém era muito bondoso e querido por todos. Sua excessiva experiência na arte de caçar animais silvestres dispensava qualquer comentário.
Quando queria saber onde estava o bando de queixada (porco do mato), ou se alguém estava a caminho da vila, patuá usando de sua arte indígena, colocava os ouvidos rente ao chão, distribuía sorriso e dizia: - “tá chegando gente da cidade no povoado”. Ou então, falava: - “tem um bando de porcos nas proximidades da itaubeira” e assim por diante. Quando se tratava de porcos, antas e veados, o velho índio já saía em disparada, embrenhando-se na mata, sem fazer caminho para encontrar suas presas. Sua arma principal era a espingarda alemã chamada “noiva”, devido o brilho dado a ela todos os dias por ele. Na volta de suas aventuras já era certo a distribuição de carne fresca a todos que o aguardava.

A comunicação ouvido-terra fazia de Patuá uma espécie de guru - adivinhão, ganhando confiança de todos principalmente de caçadores que para não se perderem na selva, usavam o experiente índio como matreiro. Sua profissão era a caça; nunca plantou uma maniva.  A noite, a minúscula vizinhança rodeava ao lado dele para escutar lindas histórias de sua tribo. Invocava o mito do boitatá, mapinguarí, caiçara e descrevia com muito orgulho a vida de sua sobrinha, a índia Caboré que se transformou numa castanheira, símbolo do município.
Certa feita, Patuá saiu de casa para escorar antas no chupador central do Tauarí. Mucuta nas costas, espingarda sobre os ombros, lá foi ele amarrar sua rede-moitá ao lado do místico lugar.
Minutos depois apareceu a primeira anta, sendo recepcionada com um balaço da alemã, caindo em cima do rastro. Patuá continuou inerte após o tiro, aguardando outras antas aparecerem quando percebeu um estranho homem focando lá em baixo, entre as árvores; parecia cuidar do chupador. Depois de alguns segundos Patuá foi surpreendido com um clarão de luz, ficando assustado no que estava vendo. Ele permaneceu quieto até a luz se desfazer.
Porém, nada com ele aconteceu. Mais tarde, o assombrado lugar dava sinal de visita; resolveu focar enxergando dois animais na aparência de cavalo que chupavam lama salgada e que num gesto de liberdade, levantavam a cabeça no ar, expondo enormes dentes. O velho índio percebeu que não era coisa desse mundo. Jamais tinha visto em toda sua vida, cavalos selvagens em chupador de anta; mesmo assim não perdeu o entono de bom caçador, liberando dois tiros nas supostas aparições.
Quando silenciou o estampido, focou novamente vendo um cavalo em delírio; o misterioso mastodonte saltava enfurecido, tombando as árvores ao seu redor e decepando-as com seus enormes dentes já esvaído em sangue devido aos efeitos dos tiros.
Patuá desceu da rede onde estava amoitado e partiu para o confronto com a fera, tentando segurar pelo rabo e jogá-lo ao chão. Quando se aproximou foi alvejado por um coice que o fez perder o sentido; mal pôde ver o animal afastando-se dele, ficando lá a dormir por dois dias até ser resgatado por populares que saíram a sua procura.
Retornando para casa, Patuá parecia sonâmbulo, falava descontrolado e dizia que queria se encantar. Depois desse acontecimento passou o tempo todo fora do normal. O destino dele era querer embrenhar-se na mata; até que um dia fugiu para a selva e nunca mais foi visto por ninguém. Tempos depois suas vestes foram encontradas no pé de um patuazeiro que nasceu no meio do chupador central do Tauarí.


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